terça-feira, novembro 14, 2006

O que fala o Tempo (às vezes)

Em sobremaneira pardo
Num desfile de pensamentos
Vi correr suores lamentos
Sobre os espinhos de um cardo

No desfile em que passavam
Saudades, Sonhos, Amores
Sorriam certos actores
Da vida que não levavam

Sorriam todos de esguelha
De maneira a que a Ausência
Com toda a sua ciência
Não se mostrasse de velha

Sacudiam a poeira
Do comodismo barato
Olhando, então, ao retrato
Que ali estava à sua beira

Em sobressalto miraram
A figura tresloucada
Que parecia parada
Aos olhares que não ‘stancaram

A alta figura sombria
Trazia a perenidade
Sulcos na face, a idade
De quem tudo viveria

Era o Tempo quem lá ‘stava
Mirando gados e povos
Tendo pena dos mais novos
De quem a vida guardava

Inclinou-se pra ninguém
Abriu a boca e soltou
Um gemido que tocou
Para além do mais-além

Sorriu pra todos de igual
Dizendo numa batida:
«Ouçam todos muito bem:
Tudo é efémero na vida
Só a Morte é imortal!»

João De

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