sexta-feira, outubro 27, 2006


Flórida - EUA (2005), por João De


Um caminho pernoitado. Relembro na sombra de cada palavra o pensamento que outrora tive. Engraçado, porque relembro. Bem…, talvez porque os lôbregos sentidos o permitam. Não sei, se os quisesse recordar bastava pensar novamente. Era tão bela… pois era… uma beleza em imperfeito pretérito!

Sinto falta (!) mas acho que de coisa nenhuma. A regalia ilusória de muitos transborda na afectação de poucos (não invejo, mas fico intelectualmente feliz).


Oiço Harlod budd / Brian eno, the pearl… Curioso como a própria música invade e presenteia com a boiante sensação de um encontrar desesperante em si. A busca com que se refaz, exalta a comodidade do desconcerto.


Ahh... qualquer normal fomentador de inadequadas sensações não intelectualizadas ouvirá repouso em palavras que não o são. Parabéns!!

Cuido do ar como se de mim cuidasse. Em venturas o trago guardado para que pó algum se acomodasse. Permaneço na constância de não partir. Evoco a perplexidade do sonho que não tive para igualar a audácia da brisa que se me impõe. Prescrevo as ondas do cabelo, o deslocar de lábios e a branquidão taciturna do olhar…

Enfim, a vida que o é!


Quem desesperadamente procura, mais desesperadamente desiste…



Entrego-me, em sopro, ao calor do gelo.




Como é bom em claridade…

Uma questão pueril


Sesimbra (2005), por João De

De que vale um sonho feito?
De que vale a felicidade?
De que vale um olhar teu,
Se não me o dás de verdade?

De que vale a epopeia?
De que vale grande escritor?
De que vale um grande herói,
Se não tem um grande amor?

De que vale o mundo inteiro?
De que vale ter um brasão?
De que vale toda a fortuna,
Se não me dás afeição?

De que vale a guerra inteira?
De que vale a luta feia?
De que vale um D.Quixote,
Se não tem a Dulcineia?

João De

segunda-feira, outubro 23, 2006

Provir


Alfarim (2003), por João De

Cravei no espinho
A suavidade do fogo da loucura
Sangrou…

Mastiguei o tempo
Consumi verdades
Galguei a perenidade do que foste
Em pérola de jasmim

A flor das Eras
Que em pétalas de quimeras
Te transporta
Abriu…

Libertou do fundo
Um azul profundo
e... sussurrando... e.x.t.i..n..g..u...i...u......


João De

quinta-feira, outubro 19, 2006

Quadras de tempos idos

Pelas rosas contratempos
Pelos sonhos já formados
Calam cantos dos alentos
Cegam troços destroçados

Minh'alma de sonhos vagos
Percorre o Sonho que existe
Na distância do que é triste
No caminho dos afagos

Uma pessoa que fere
A vida que sempre quis
Faz coisas que contradiz
O Sonho que lhe confere

A penumbra que existiu
Na vela dos mastros meus
Sossega a vida de um deus
Onde a morte já partiu

No contraponto da luz
Da seda por nós tecida
Cresce a vida merecida
Pelo vento que conduz

Se ao menos a vida desse
Um sol que navega e cai
Fossemos nós um tal pai
Para quem a merecesse...

João De (adolescente)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Auto-glosa


Arrábida (2003), por João De

Em luz de nocturno me devaneio
Percorro, em gnose, a altura dos ventos...
Traçando guardas de resoluta inquietação,
Espremendo a brisa que de mim se oculta
E, gota a gota, o suor da ilusão...

João De

sexta-feira, outubro 13, 2006

Em sôfrego estado ausente


La Pedrera - Barcelona (2005), por João De


Quantas praias, meu caro, quantos arcos
Quantas ideias vãs arrependidas
Quantos sopros em mentes estendidas
Quantos sóbrios enganos, quantos parcos!

De tanta lucidez enraivecida
De tanto ruminar embriagado
Sussurra no Sentir de um triste fado
A mágoa emproada e já esquecida

Raivosa silhueta enegrecida
Na tela de uma vida infeliz
Correndo pela esmola de outra vida...

Sossega... pára e ... passa e... contradiz
No sopro de uma ave que esquecida
Embarca em Morpheu... e é feliz!

João De

segunda-feira, outubro 02, 2006

Sublimação


Venda Nova - Coimbra (2004), por João De


Vieste..
Tuas aguarelas verdes
Salpicadas de ternura
Reclinavam-se...
Abraçaste-me
Procurando não escapar...

Senti os pedaços do teu corpo
Pousarem como borboletas...
Suaves... Constantes...


João De