quarta-feira, dezembro 20, 2006

Remanescência em facto


Venda Nova - Coimbra (12-2005), por João De

Na remanescência de um Sonhar
Em que olvidei em Sol poente
Sorri…
Quebrei…
Galopei a sombra
Mergulhei no vento…

Minhas mãos, em pétalas de rua, se esconderam
Mostrando a inquietude
O odor
O suspiro de quem sente

Perdi o coração, que era meu, perdi…
De mim…
… pra ti!
João De

quinta-feira, novembro 23, 2006

terça-feira, novembro 21, 2006

Crepitar

Em calma sussurrada de um fogo
Que Prometeu tentou roubar
Olhei, em salvas, a sombra do ardor
Quem em meu peito, amor,
Nada fez senão pairar…

João De

terça-feira, novembro 14, 2006

Colecção

Se eu sofresse a perdição no estado em que serei ausente
Sofreria a maldição de ter um passado presente

João De

O que fala o Tempo (às vezes)

Em sobremaneira pardo
Num desfile de pensamentos
Vi correr suores lamentos
Sobre os espinhos de um cardo

No desfile em que passavam
Saudades, Sonhos, Amores
Sorriam certos actores
Da vida que não levavam

Sorriam todos de esguelha
De maneira a que a Ausência
Com toda a sua ciência
Não se mostrasse de velha

Sacudiam a poeira
Do comodismo barato
Olhando, então, ao retrato
Que ali estava à sua beira

Em sobressalto miraram
A figura tresloucada
Que parecia parada
Aos olhares que não ‘stancaram

A alta figura sombria
Trazia a perenidade
Sulcos na face, a idade
De quem tudo viveria

Era o Tempo quem lá ‘stava
Mirando gados e povos
Tendo pena dos mais novos
De quem a vida guardava

Inclinou-se pra ninguém
Abriu a boca e soltou
Um gemido que tocou
Para além do mais-além

Sorriu pra todos de igual
Dizendo numa batida:
«Ouçam todos muito bem:
Tudo é efémero na vida
Só a Morte é imortal!»

João De

segunda-feira, novembro 13, 2006

Mimo

Na esperança do volver
Na flor que não vier
Encontrei a vastidão

Somei aos mares o fotão
Que na sua imensidão
Fez-se de águia fugida

Ternura flor que colheste
Na verdura do cipreste
No horizonte da lua

Colheste, desfolhaste
A flor que no contraste
Nada era senão bruma

João De

sexta-feira, outubro 27, 2006


Flórida - EUA (2005), por João De


Um caminho pernoitado. Relembro na sombra de cada palavra o pensamento que outrora tive. Engraçado, porque relembro. Bem…, talvez porque os lôbregos sentidos o permitam. Não sei, se os quisesse recordar bastava pensar novamente. Era tão bela… pois era… uma beleza em imperfeito pretérito!

Sinto falta (!) mas acho que de coisa nenhuma. A regalia ilusória de muitos transborda na afectação de poucos (não invejo, mas fico intelectualmente feliz).


Oiço Harlod budd / Brian eno, the pearl… Curioso como a própria música invade e presenteia com a boiante sensação de um encontrar desesperante em si. A busca com que se refaz, exalta a comodidade do desconcerto.


Ahh... qualquer normal fomentador de inadequadas sensações não intelectualizadas ouvirá repouso em palavras que não o são. Parabéns!!

Cuido do ar como se de mim cuidasse. Em venturas o trago guardado para que pó algum se acomodasse. Permaneço na constância de não partir. Evoco a perplexidade do sonho que não tive para igualar a audácia da brisa que se me impõe. Prescrevo as ondas do cabelo, o deslocar de lábios e a branquidão taciturna do olhar…

Enfim, a vida que o é!


Quem desesperadamente procura, mais desesperadamente desiste…



Entrego-me, em sopro, ao calor do gelo.




Como é bom em claridade…

Uma questão pueril


Sesimbra (2005), por João De

De que vale um sonho feito?
De que vale a felicidade?
De que vale um olhar teu,
Se não me o dás de verdade?

De que vale a epopeia?
De que vale grande escritor?
De que vale um grande herói,
Se não tem um grande amor?

De que vale o mundo inteiro?
De que vale ter um brasão?
De que vale toda a fortuna,
Se não me dás afeição?

De que vale a guerra inteira?
De que vale a luta feia?
De que vale um D.Quixote,
Se não tem a Dulcineia?

João De

segunda-feira, outubro 23, 2006

Provir


Alfarim (2003), por João De

Cravei no espinho
A suavidade do fogo da loucura
Sangrou…

Mastiguei o tempo
Consumi verdades
Galguei a perenidade do que foste
Em pérola de jasmim

A flor das Eras
Que em pétalas de quimeras
Te transporta
Abriu…

Libertou do fundo
Um azul profundo
e... sussurrando... e.x.t.i..n..g..u...i...u......


João De

quinta-feira, outubro 19, 2006

Quadras de tempos idos

Pelas rosas contratempos
Pelos sonhos já formados
Calam cantos dos alentos
Cegam troços destroçados

Minh'alma de sonhos vagos
Percorre o Sonho que existe
Na distância do que é triste
No caminho dos afagos

Uma pessoa que fere
A vida que sempre quis
Faz coisas que contradiz
O Sonho que lhe confere

A penumbra que existiu
Na vela dos mastros meus
Sossega a vida de um deus
Onde a morte já partiu

No contraponto da luz
Da seda por nós tecida
Cresce a vida merecida
Pelo vento que conduz

Se ao menos a vida desse
Um sol que navega e cai
Fossemos nós um tal pai
Para quem a merecesse...

João De (adolescente)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Auto-glosa


Arrábida (2003), por João De

Em luz de nocturno me devaneio
Percorro, em gnose, a altura dos ventos...
Traçando guardas de resoluta inquietação,
Espremendo a brisa que de mim se oculta
E, gota a gota, o suor da ilusão...

João De

sexta-feira, outubro 13, 2006

Em sôfrego estado ausente


La Pedrera - Barcelona (2005), por João De


Quantas praias, meu caro, quantos arcos
Quantas ideias vãs arrependidas
Quantos sopros em mentes estendidas
Quantos sóbrios enganos, quantos parcos!

De tanta lucidez enraivecida
De tanto ruminar embriagado
Sussurra no Sentir de um triste fado
A mágoa emproada e já esquecida

Raivosa silhueta enegrecida
Na tela de uma vida infeliz
Correndo pela esmola de outra vida...

Sossega... pára e ... passa e... contradiz
No sopro de uma ave que esquecida
Embarca em Morpheu... e é feliz!

João De

segunda-feira, outubro 02, 2006

Sublimação


Venda Nova - Coimbra (2004), por João De


Vieste..
Tuas aguarelas verdes
Salpicadas de ternura
Reclinavam-se...
Abraçaste-me
Procurando não escapar...

Senti os pedaços do teu corpo
Pousarem como borboletas...
Suaves... Constantes...


João De

sábado, setembro 30, 2006

Tempos


Anços - Coimbra (2003), por João De


Se o sol amanhecesse
no Tempo que não voltou
Voltava a ser amanhã
no Tempo que já passou...

João De


sexta-feira, setembro 29, 2006

The beginning

"Foi um dia, e outro dia, e outro ainda.
Só isso: o céu azul, a sombra lisa,
o livro aberto.
E algumas palavras. Poucas,
ditas como por acaso.
(...)"

Eugénio de Andrade